O fim das festas

Há muito tempo sabemos que querem transformar as arquibancadas em plateia de teatro. Nada de bandeiras, nada de baterias, nada de festa, nada de gente pulando, nada de gente gritando. O futuro é todo mundo sentado apenas aplaudindo. O futuro não é mais “futuro”: ele virou presente.

Neste início de 2017, as torcidas organizadas de São Paulo receberam um ofício do Ministério Público informando que até o fim deste ano estão proibidos instrumentos musicais, faixas, bandeiras e quaisquer vestimentas de torcidas organizadas nos estádios. Além disso, a imposição da “torcida única” continua (e deve ser ampliada para outros jogos além dos clássicos) e quem quiser comprar ingressos para jogos de futebol só pode fazê-lo online, com uso de cartão de crédito.

Antes de mais nada, sabemos que as organizadas têm seus erros. Mas punição coletiva não é resposta para nada, é apenas paliativo. Mas isso não importa para eles: pune-se o COLETIVO por causa de erros INDIVIDUAIS.

Algumas pessoas acreditam que matar a festa do torcedor brasileiro nos estádios de futebol é a forma mais eficiente de inibir a violência. A longo prazo, veremos uma nova geração de torcedores se desinteressarem pelos times brasileiros para se encantarem com as festas das torcidas do Real Madrid, Barça, Juventus, Liverpool, Chelsea ou mesmo Boca Juniores e River Plate.

Isso fica ainda mais evidente com a restrição de só vender ingressos pra quem tem cartão de crédito. A transformação das arquibancadas em plateias de teatro enfim começou de fato e de direito.

Torcedor é “cliente”? Futebol é apenas um “negócio” e não deveria envolver paixão de nenhum tipo? O futuro é ver as arquibancadas no máximo aplaudindo um gol em final de campeonato, exatamente como se aplaude uma apresentação teatral bem sucedida? Sim, é exatamente isso que eles querem.

Aguarde alguns meses, talvez um ou dois anos, e você verá aonde vamos parar com todas essas medidas. A alegria do futebol tem data para ser sufocada. E é exatamente isso que eles querem.

André Azevedo
Presidente da ANATORG