Características demográficas de torcidas no Rio e em SP
por Jimmy Medeiros
Torcedores organizados são reportados nos meios de comunicação, fora das transmissões televisivas, principalmente, em três contextos: festa nas arquibancadas, sobretudo, nas propagandas de venda de pacotes dos campeonatos; brigas entre torcedores para retratar atos de violência e, por fim, em manifestações nos centros de treinamentos para cobrar por melhores resultados no campo e contratações de reforços para os times.
Todavia, na primeira das duas situações, as torcidas organizadas não são identificadas. Elas normalmente são representadas sem a denominação do agrupamento e sem visibilidade para as suas marcas e símbolos. Aparecem apenas de forma difusa parte das suas bandeiras, gritos e as suas paixões! Nas demais situações, os nomes das torcidas, suas camisas e símbolos aparecem, deixando uma imagem negativa da sua existência. Mais do que isso, fixa a impressão de que a violência é a única forma de caracterização desses grupos.
Essas representações violentas deixam – no senso comum – o sentimento de elemento perigoso. Para tentar esclarecer um pouco mais sobre o assunto, uma pesquisa quantitativa foi realizada com torcedores organizados dos principais clubes do Rio de Janeiro, em 2013, e de São Paulo, durante os anos de 2014 e 2015.
As entrevistas foram realizadas nos estádios de futebol em dias de jogos dos clubes e, com isso, trouxe luz para a caracterização desses grupos. Os dados ajudam a descrever e dar forma às torcidas organizadas.
Esses grupos sociais, como sabido, são compostos majoritariamente por homens. No momento da pesquisa, cerca de 10% dos integrantes eram mulheres, todavia, a participação feminina tem crescido a sua importância quantitativa nas arquibancadas. Cada vez mais disputam por espaço!
No Rio de Janeiro, 77% dos membros das torcidas organizadas têm até 29 anos de idade, ao passo que em São Paulo 79% dos membros têm entre 20 e 39 anos. Ou seja, o perfil etário paulista é mais velho do que o carioca. Essa diferença etária tem impacto decisivo no tempo de filiação dos entrevistados em suas torcidas organizadas. Ou seja, os filiados às torcidas organizadas de São Paulo apresentam tempo de filiação médio superior ao carioca. Por exemplo, em São Paulo 34% dos entrevistados têm mais de 10 anos de filiação, sendo que no Rio essa proporção alcança apenas 15% dos entrevistados.
Por outro lado, a pesquisa identificou similaridades entre os grupos das duas regiões. Uma primeira informação é sobre o local de moradia, dado que 2/3 dos entrevistados residiam na capital do estado e os demais vivam nas cidades da região metropolitana ou do interior. Além disso, com relação ao estado civil cerca de 75% dos torcedores eram solteiros e outros 3% eram divorciados/separados. Por fim, a pesquisa permitiu identificar 60% dos entrevistados com o Ensino Médio completo e 20% com o Ensino Superior completo em ambas as regiões. Essas proporções, por exemplo, são maiores do que o identificado pelo IBGE para a população brasileira com o Censo Demográfico de 2010.
Esses dados quantitativos permitem ilustrar de forma ampla os grupos de torcedores organizados. Dão forma aos agrupamentos, desmistificando a invisibilidade e o medo que se tem. Os dados ainda contribuem a conhecer melhor os grupos e, em um segundo momento, a aceitar a participação desses indivíduos nos debates de políticas públicas e ações governamentais no campo do esporte.
Os dados apresentados neste texto podem ser acessados aqui e aqui.