A formação da subjetividade torcedora e os meios de comunicação
Na coluna de hoje, faço uma breve reflexão sobre o processo de construção da subjetividade torcedora. Para tanto, seguindo as reflexões do filósofo anarquista Tomás Ibáñez (2015), apresento três perspectivas filosóficas, vinculando-me à terceira delas. A primeira, influenciada principalmente pela fenomenologia, compreende a subjetividade, grosso modo, como constituinte de nossas experiências de nos mesmos e do mundo que nos rodeia. Sendo assim, se quisermos conhecer a fundo o mundo de um(a) torcedor(a), precisamos examinar, com rigor, sua consciência. É por meio desse exame que conseguimos torná-la mais transparente e enxergá-la com nitidez.
A segunda, influenciada principalmente pelo estruturalismo, compreende que a subjetividade não é constituinte, mas constituída. Mas constituída pelo que exatamente? Pela língua, pelos códigos, pela cultura, pelo inconsciente… Enfim, pelas estruturas. Sendo assim, dessa perspectiva, se quisermos conhecer a subjetividade dos(as) torcedores(as), é inútil interrogar a sua consciência. Temos, na verdade, de interrogar o que fala em e por meio dele(a) sem que ele(a) esteja consciente disso.
A terceira, influenciada pelo pós-estruturalismo, compreende, assim como a anterior, que a subjetividade é constituída pelos elementos do mundo – com a diferença que, ainda assim, desempenha um papel ativo. Na metáfora de John B. Thompson (1998), como num jogo de xadrez, os sistemas simbólicos que nos precedem abrem e fecham determinados movimentos, mas somos nós quem definimos, em última instância, a jogada. A partir dessa metáfora, o sociólogo de Cambridge compreende o selfcomo um projeto simbólico que construímos ativamente com os materiais simbólicos que nos estão disponíveis.
De acordo com Thompson (1998), nas sociedades contemporâneas, a mídia possui um papel fundamental nessa construção, uma vez que, cada mais, as pessoas fazem uso de materiais simbólicos obtidos por meio de formas mediadas de comunicação (sejam elas impressas ou eletronicamente veiculadas) para criar narrativas sobre si mesmas e sobre o mundo que as rodeia. Séculos atrás, cabe recordar, esses materiais eram adquiridos, basicamente, em contextos face-a-face. Diante disso, podemos dizer que não é possível compreender a formação da subjetividade torcedora sem compreendermos devidamente os discursos da mídia sobre o futebol. Por essa razão, há alguns anos, tenho, entre meus principais interesses de pesquisa, compreender os modos como as torcidas organizadas são midiaticamente representadas.
Referências bibliográficas
IBÁÑEZ, Tomás. Anarquismo é movimento:anarquismo, neoanarq
THOMPSON, John B. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 8 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.