Torcida organizada e carnaval: contornos de uma aproximação

por Jimmy Medeiros

Torcidas organizadas, em geral, têm uma ligação forte com o carnaval. Em São Paulo essa relação ficou ainda mais evidente, dado que as agremiações torcedoras criaram suas próprias Escolas de Samba e blocos carnavalescos. No Rio de Janeiro o envolvimento não é tão institucionalizado. A participação dos membros das torcidas se dá nos desfiles, nas baterias, mas a relação é mais aberta e diversa. Não há conexão de símbolos, cores entre as agremiações torcedoras e carnavalescas. O caso paulista é quase ‘umbilical’. 

Para aprofundar nesta investigação, durante os anos de 2014 e 2015, foi realizado um survey com membros de torcidas organizadas dos principais clubes de São Paulo. Ao todo, foram 600 entrevistas realizadas nos estádios de futebol ou nas ruas ao redor dos equipamentos esportivos, sempre em dias de jogos de futebol do clube. A pesquisa possibilitou identificar que 40% desses torcedores organizados participavam diretamente de alguma forma do Carnaval e outros 42% apenas assistiam os desfiles. Por fim, 18% mencionaram que “não assiste, nem participa” do Carnaval. Ou seja, um grupo pequeno dos afiliados não tinha envolvimento com o evento.

Embora a pesquisa não tenha questionado sobre os motivadores da participação, os dados do surveycontribuem para identificar um perfil do torcedor em relação a sua participação – ou não – no carnaval paulistano.

De início, a idade foi uma informação útil para saber que os mais jovens – torcedores com até 39 anos – declararam que mais assistem do que participam dos desfiles. Por outro lado, aqueles com 40 anos ou mais de idade foram os que declararam maior taxa de participação no carnaval. 

Ao mesmo tempo, a pesquisa de campo possibilitou identificar que quanto menor o grau de escolaridade do entrevistado, maior a proporção de menções de “participa” do carnaval. Essa variável pode ser utilizada como uma proxy para renda no Brasil, dado que quanto maior o grau de escolaridade dos brasileiros, maior tende a ser a rendamensal. Desta forma, entendemos que os torcedores organizados entrevistados de menor renda apresentam maior taxa de participação no carnaval, se comparado aos torcedores de maior renda. Isso não pode ser assumido como uma regra, mas ajuda a entender melhor o público interessado. 

Em sequência, a pesquisa possibilitou identificar que torcedores organizados que costumavam viajar com suasagremiações torcedoras tendiam a participar do Carnaval em maior medida que aqueles torcedores que nunca viajaram. Essa variável “viajar com a torcida” pode ser adotada como um atalho informacional de aproximação ou envolvimento com a torcida organizada e, portanto, é o público mais engajado com as atividades torcedoras. 

Outra variável nesta mesma linha de maior engajamento com a torcida organizada é a frequência à sede da agremiação torcedora. A pesquisa identificou que quanto maior era a frequência à sede da TO, maior era a taxa de participação do torcedor no carnaval. Ou seja, se uma agremiação carnavalesca pretende atrair os membros da sua torcida organizada – para maior envolvimento em suas atividades voltadas para o carnaval – é fundamental que eles consigam estabelecer um engajamento alto entre torcedor e a torcida organizada. A sinergia entre ambas as instituições é fundamental para o sucesso delas e o fortalecimento do elo delas com os torcedores organizadosé fundamental para aumentar tanto a participação tanto nas arquibancadas, festas, eventos, viagens, quanto no carnaval.

Os dados apresentados neste texto podem ser acessados aqui e aqui.